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Dobra número de jovens na universidade


Dobra número de jovens na universidade

Taxa saltou de 6,9% para 13,9% de 1998 a 2008; ProUni e expansão das instituições são principais fatores
Wilson Tosta escreve para "O Estado de SP":

Dobrou no Brasil a proporção de jovens de 18 a 24 anos que cursam uma universidade. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada ontem, a taxa passou de 6,9% para 13,9% entre 1998 e 2008. O índice de brasileiros que frequentam uma instituição de ensino superior (independentemente da idade), porém, é de 30%, segundo números da Unesco.

A boa notícia - que representa um salto para padrões brasileiros, mas ainda deixa o país distante das nações desenvolvidas - coincide com um período de expansão das instituições de ensino superior particulares no país e a criação do Programa Universidade Para Todos (ProUni), que dá milhares de bolsas por ano a alunos de escolas públicas em universidades privadas.

"Foi um salto grande", afirmou o pesquisador Cláudio Moura e Castro, que comentou números da pesquisa sobre educação a pedido do Estado. "Não dá para ir mais rápido."

Segundo ele, no Brasil, o dado que não leva em conta a idade do estudante (chamado de frequência bruta) é mais importante do que o que só considera os alunos em idade e série adequadas (frequência líquida). Isso porque enquanto o segundo indicador mostra a eficiência do sistema educacional, o primeiro mede o resultado.

"Para o mercado é importante que a pessoa se forme, independente da idade", explicou o pesquisador, destacando que, no Brasil, como a educação é deficiente, ainda há um considerável atraso escolar. "As pessoas terminam o ensino médio mais tarde, vão trabalhar antes e entram para a universidade depois."

Ensino médio

Também houve expansão no ensino médio. A taxa passou de 76,5%, em 1998, para 84,1%, em 2008. Desse total, 50,6% dos estudantes estão na série adequada à idade, o que também representa um progresso - em 1998, o índice era de 30,4%. Segundo o IBGE, se esse ritmo for mantido, o país chegará a 2018 com 70,8% dos estudantes com idade adequada no ensino médio, ainda abaixo dos países desenvolvidos (em torno de 90%).

"O ensino médio é muito ruim", disse Moura e Castro. "É muito chato, muito abstrato. Se a escola for boa é voltado para o vestibular e se for ruim, o currículo do Ministério da Educação não diz o que fazer."

Tempo de estudo

O porcentual de jovens de 18 a 24 anos com pelo menos 11 anos de estudo subiu de 18,1%, em 1998, para 36,8%, no ano passado. O indicador, apesar de baixo, também dobrou. Em 2008, 45,3% das pessoas com 15 anos ou mais tinham menos de oito anos de estudo. Nessa mesma faixa etária, 21% têm menos de quatro anos de estudo e, por isso, são considerados analfabetos funcionais (o critério que define o analfabetismo funcional é o número de anos de estudo).

A evolução, porém, parece lenta. Em 2008, a média de anos de estudo na população com 15 anos ou mais era de 7,4%. No Sudeste, o índice chegava a 8,1%, mas no Nordeste estava em 6,2. Na faixa acima de 25 anos, o número de anos de estudo no período analisado "não cresceu um ano completo", diz a Síntese do IBGE.

Na escala de rendimentos, o melhor resultado foi obtido entre os 20% dos brasileiros que mais têm dinheiro - o tempo médio de estudo chegou a 10,3 anos. Por outro lado, nesse mesmo grupo, só 21,5% tinham o ensino médio completo.

O levantamento do IBGE também apontou acentuada diferença no número de anos de estudo entre os brasileiros que moram na cidade e no campo. De acordo com a sondagem, em 2008, 4,6% dos moradores da área rural e 7,9% dos da área urbana tinham estudado 15 anos ou mais. Na comparação regional também transparece a desigualdade. No Sudeste, no ano passado a média já chegava a 8,1 anos (em 2002, eram 7,2), enquanto no Nordeste era de apenas 6,2 anos (em 2002, 5,1).

O estudo do IBGE mostra ainda a melhoria da média de anos de estudo dos mais pobres, a partir da análise da sociedade por quintos de renda. Por essa metodologia, a sociedade foi dividida em cinco grupos de 20%, de acordo com sua renda familiar per capita, dos mais pobres para os mais ricos.

Em 1998, o grupo mais pobre tinha, em média, 2,6 anos de estudo. Em 2003, esse número chegou a 3,4 e em 2008, a 4,3. No segundo quinto mais pobre, a evolução foi de 3,4 (1998), 4,4 (2003) e 5,4 (2008). Já no quinto mais rico da população brasileira, a evolução dos anos de estudo passou de 9,5 (1998), para 9,8 (2003) e no ano passado chegou a 103 anos.

Outro indicador que mostra avanço é o que aponta o número de crianças e jovens entre 7 e 14 anos na escola. A taxa, que há dez anos era de 94,7%, no ano passado chegou a 97,9%.

31% param de estudar depois do ensino médio

O IBGE constatou, na Síntese de Indicadores Sociais referente a 2008, que aumentou o porcentual de jovens de 18 a 24 anos com 11 anos de estudo - ou seja, com o ensino médio completo - que não estão estudando. Em 2006, eram 29,2%; em 2007, 30%; e em 2008, 31,8%.

Para o pesquisador Cláudio Moura e Castro, especializado em educação, esses números se devem ao aumento de graduados no ensino médio, mas não é nem positivo nem negativo.

A síntese também apontou, na área educacional, a permanência de fortes desigualdades entre negros e brancos no país. No ano passado, os brancos tinham, em média, 8,3 anos de estudo, quase2 anos a mais do que os pretos e pardos (6,7 e 6,5 anos, respectivamente).

Dois terços dos jovens brancos e menos de um terço dos pretos e pardos cursavam o nível superior. A proporção de pessoas de 25 anos ou mais com universidade concluída era de 14,7% entre os brancos e de 4,7% entre os pretos e pardos.

Mesmo assim, a pesquisa aponta que houve melhora na distribuição da frequência por níveis de ensino entre a população de cor preta e parda. Em 1998, um terço dos brancos de 18 a 24 anos já frequentavam o ensino superior, contra 7,1% dos pretos e pardos. Em 2008, os pretos e pardos no ensino superior já eram 28,7%, mas os brancos tinham chegado a 60,3%. No ano passado, só 3,8% da população preta e parda havia concluído o ensino superior.

A desigualdade também ocorre em outras áreas. No 1% da população com maior renda, só 15% era formada por pretos e pardos - 82,7% eram brancos. Já entre os 10% com a menor renda, 25,4% se declararam brancos e 73,7%, pretos e pardos.
(O Estado de SP, 10/11)

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