Pular para o conteúdo principal

Brasileiros descobrem em MG a mais antiga gravura rupestre das Américas


 
Desenho teria de 9,5 mil a 10,5 mil anos e enfraquece teoria que defende chegada do homem às Américas há 11,2 mil anos.

Pesquisadores brasileiros encontraram a gravura rupestre mais antiga das Américas: um baixo-relevo descoberto a apenas 60 quilômetros de Belo Horizonte, em Lagoa Santa. As datações de carbono 14 sugerem que a representação pré-histórica tem de 9,5 mil a 10,5 mil anos.

O desenho apresenta uma misteriosa figura antropomórfica com a cabeça em forma de C, três dígitos nas mãos e pênis ereto. "Provavelmente, era parte de um painel maior, a representação de algo como um culto de fertilidade", propõe Walter Neves, arqueólogo do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais responsáveis pela descoberta, divulgada na revista PLoS One.

"Também poderia representar uma exaltação à virilidade", aponta Astolfo Araujo, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Ele recorda que, ao calibrar a datação por carbono 14, o achado pode ser ainda mais antigo: de 10,5 mil a 12 mil anos atrás. "Esse dado foi confirmado por outro método de datação: a luminescência."

O arqueólogo Danilo Bernardo, coautor do trabalho, recorda que a gravura foi descoberta em julho de 2009. "Estávamos prestes a cobrir o sítio arqueológico para deixar o local", afirma Bernardo. O grupo realizava as últimas escavações quando surgiu a figura. "Só conseguimos datar porque trabalhamos de forma metódica, recolhendo todos os carvões (fonte de carbono 14) das fogueiras pré-históricas do sítio", recorda o pesquisador.

Neves e Araujo sublinham que a descoberta enfraquece ainda mais o modelo Clóvis, explicação que, durante muitos anos, foi hegemônica para a ocupação humana na América. "Segundo esse modelo, o homem teria entrado no continente pelo Estreito de Bering há 11,2 mil anos", explica Neves. Ele descobriu, em 1998, Luzia, o esqueleto humano mais antigo da América, de uma mulher que viveu há cerca de 11 mil anos no Planalto Central. Foi um golpe no modelo Clóvis. "Não daria tempo para todo o continente ter sido colonizado", aponta o pesquisador.

Outras descobertas também fortaleceram a teoria de uma ocupação mais antiga da América. A presença de diferentes culturas líticas - ou seja, de construção de ferramentas com pedras - em um passado bastante remoto, aliada a uma surpreendente e antiga adaptação às diferentes paisagens do continente, também apontam que o homem chegou à América há mais tempo.

Defensores do modelo Clóvis, no entanto, questionavam a datação de Luzia. Também afirmavam que as diferentes culturas líticas seriam mais bem explicadas por diferenças nas matérias-primas disponíveis que pela presença de uma tecnologia sofisticada no continente há mais de 10 mil anos. Por fim, atribuíam a ocupação dos diversos habitats da América do Sul à natural habilidade humana de adaptação. "Agora, com esse achado, mostramos que já havia uma considerável diversidade simbólica no continente logo no início do Holoceno", afirma Neves. "Algo inverossímil se a ocupação da América tivesse começado há apenas 11,2 mil anos."

Araujo concorda. "Mostramos que a hipótese de uma ocupação mais antiga não se baseia só na datação de um esqueleto ou em evidências isoladas", afirma o arqueólogo. "Todas as evidências descobertas na América do Sul apontam nessa direção." Ele atribui o apego dos pesquisadores dos Estados Unidos ao modelo Clóvis a uma dupla culpa: "Precisamos publicar mais em inglês e eles precisam começar a ler com mais atenção nossos trabalhos".

Neves acredita que o homem chegou ao continente há 14 mil anos. Ele também aposta que a porta de entrada foi o Estreito de Bering. "Não acho razoável propor que os primeiros habitantes vieram por embarcações da Austrália ou da África, bebendo água salgada", aponta o pesquisador.

Os pioneiros no continente não tinham a aparência dos índios atuais - que, na visão de Neves, chegaram depois à América, há 11 mil anos. Eles eram parecidos com os africanos e com os habitantes nativos da Austrália.
(O Estado de São Paulo) 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FESTIVAL DE MÚSICA PARQUE SUCUPIRA

FESTIVAL DE MÚSICA PARQUE SUCUPIRA - A GRANDE FINAL É AMANHÃ!SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2009A partir das 19h, Estacionamento da UnB - Planaltina DF01 - Aroldo Moreira - "Paralelepípedo e outras proparoxítonas"02 - Diga How - "Quem lê, viaja"03 - Etno - "A mesma dor"04 - Kleuton e Karen - "Quando a peteca cair"05 - Malwe Djow - "Deus e o Diabo na Terra- Parte II06 - Martinha do Coco - "O Perfume Dela"07 - Máximo Mansur - "Concréticas"08 - Os Sambernéticos - "Meus Brasis"09 - Vytória Rudan - "Planador"10 - Zé do Pife e as Juvelinas - "Homenagem ao Mestre"COMPAREÇA! Traga a turma, assista ao vivo às apresentações finais e torça para a sua música favorita. ENTRADA GRATUITA!MAIS INFORMAÇÕES: http://festivalparquesucupira.blogspot.com/ O Festival de Música é realizado pela Rádio Comunitária Utopia FM de Planaltina-DF e ocorrerá na cidade.

HÁ 230 ANOS, ERA DESCOBERTA A IMPRESSIONANTE PEDRA DO CALENDÁRIO ASTECA

  MATÉRIAS  »  ARQUEOLOGIA HÁ 230 ANOS, ERA DESCOBERTA A IMPRESSIONANTE PEDRA DO CALENDÁRIO ASTECA A revelação do fascinante artefato de 25 toneladas representou um grande marco para a história GIOVANNA GOMES  PUBLICADO EM 17/12/2020, ÀS 00H00 - ATUALIZADO ÀS 09H41 A famosa Pedra do Sol - Wikimedia Commons Neste dia, há exatos 230 anos,  trabalhadores  que realizavam reparos na  Cidade do México  fizeram uma importante descoberta que viria a ser conhecida como a Pedra do Sol. A estrutura esculpida em forma de  disco  com cerca de quatro metros de diâmetro e 25 toneladas representou uma grande conquista para a história.  A descoberta Na época da descoberta, século 19, o México já se encontrava livre do domínio do Império Espanhol, e, assim, como os demais países da América hispânica, desenvolveu um apreço pelo seu passado indígena, devido à necessidade de modelos para a criação de uma identidade nacional. Dessa forma, o General ...

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2010) destaca desenvolvimento sustentável

Abertura do evento em Brasília aconteceu nesta terça-feira (19/10), com a presença do ministro Sergio Rezende Foi aberta oficialmente nesta terça-feira (19), em Brasília, a 7ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), cujo tema este ano é "Ciência para o Desenvolvimento Sustentável". O objetivo do evento é divulgar a ciência e atrair mais estudantes para as atividades de pesquisa e mostrar para a população como a atividade contribui para seu bem-estar. Até do próximo domingo (24/10), haverá 10 mil atividades em mais de 300 cidades com a participação de 630 instituições ligadas à ciência, tecnologia e inovação. "A preservação da biodiversidade é um tema que Brasil tem que ser referência em função dos nossos recursos naturais. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia contribui para que o tema esteja em discussão e estimule jovens a se tornarem cientistas conscientes com o meio ambiente", afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, n...